MITA chega para se inserir de vez no circuito de festivais de médio porte em São Paulo

TEXTO POR GUILHERME SOBOTA*

O MITA Festival realizou sua primeira edição no último fim de semana, dias 14 e 15 de maio, na Spark Arena, zona oeste de São Paulo. A realização do festival serviu como um termômetro do que está acontecendo na cidade em questão de música ao vivo: ao mesmo tempo em que Gilberto Gil emocionava os cerca de 15 mil presentes no fim da tarde de sábado, na Barra Funda (outro bairro da Zona Oeste de São Paulo) Caetano Veloso se preparava para subir ao palco do Nômade Festival. Mais cedo, os Gilsons (um filho e dois netos de Gil, José, Francisco e João) também tocaram no Nômade. Resumindo, a oferta tem sido muito alta.

Já no domingo – com um pouco menos de concorrência – o Gorillaz levou cerca de 19 mil pessoas ao novo espaço para shows na cidade inaugurado pelo MITA, num show digno de headliner. Um Damon Albarn absurdamente estiloso e a participação explosiva de Posdnuos e Trugoy, do De La Soul, um dos maiores nomes do rap americano nos anos 90 e 2000, dão o tom da apresentação. O show do Gorillaz é cada vez um espetáculo em que predominam a música e o carisma de Albarn – aos 54 anos, um verdadeiro rock star –, embora a seção visual nos telões continue sendo uma parte importante da apresentação.

Construído ao redor do Gorillaz, o festival porém pareceu provar uma tendência para eventos desse porte: a música brasileira é boa parte do que torna um festival desse tamanho atraente. No sábado, Gilberto Gil trouxe ao palco uma banda de rock (guitarra, bateria e baixo, além do seu violão inconfundível). Liderada por Bem Gil, na maior parte do tempo na guitarra, a banda conta com a participação emocionante de Flor, neta de Gilberto que fez uma versão maravilhosa de I Say A Little Prayer, de Burt Bacharat e eternizada na voz de Aretha Franklin – no fim da canção, não era apenas a garota que chorava, mas boa parte do público, em êxtase. Acenos a Ary Barroso e a Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri ajudaram a completar o verdadeiro passeio de Gil por um repertório de canções clássicas da sua carreira. Vê-lo no palco em tão boa forma é um presente de uma magnitude muito grande.

Mais cedo, Marina Sena “contava vantagem”, em suas próprias palavras, no seu show super produzido, com os sucessos avassaladores do disco “De Primeira”. Aos 25 anos, a cantora e compositora mineira se consolida como uma das grandes estrelas pop dessa fase de retomada dos shows no Brasil, com uma mistura muito única de pop alternativo, rock e ritmos brasileiros liderada pelo experiente produtor do disco e baterista Iuri Rio Branco.

Também no sábado, Black Alien confirmou sua grande fase num show calcado no disco Abaixo de Zero: Hello Hell, lançado em 2019. De lá pra cá, o rapper carioca vem se mostrando cada vez mais à vontade no palco com as novas canções, já entoadas por todos na mesma intensidade que os clássicos de Babylon By Gus, de 2004. “A diferença agora é que quando chega o CD de base, sai música”, disse ele no palco, após a música Aniversário de Sobriedade, em que ele compartilha sua história com o abuso de substâncias químicas e sua posterior recuperação. É de arrepiar, e a postura de Gustavo no palco faz os fãs esperarem por mais no futuro.

No domingo, outro destaque do rap nacional abriu os caminhos para o Gorillaz. Matuê já deu um óbvio salto na carreira ao romper os limites do trap (que por si só já é um mercado em pleno funcionamento e expansão) e alcançar o público mainstream que entoava suas canções debochadas a plenos pulmões. Goste-se dele ou não, o rapper cearense também provou que é uma aposta certa para festivais e grandes shows.

Marcelo D2, Two Door Cinema Club, Tom Misch, Letrux, Liniker, Luedji Luna e o grupo australiano Rufus du Sol foram outros dos artistas que passaram pelo palco do MITA no fim de semana e que agora preparam as malas para a edição carioca do Festival, nos dias 21 e 22 de maio, no Jockey Club do Rio.

Em São Paulo, o MITA inaugurou o Spark Arena, espaço na Vila Leopoldina que se conecta com outros empreendimentos do grupo de mesmo nome. Situado na Avenida Manuel Bandeira, 500, o espaço tem fácil acessibilidade tanto para quem vai de carro (próprio ou táxi e de aplicativos) como para quem prefere o transporte público – a Arena fica a 10 minutos a pé da Estação Villa-Lobos Jaguaré. Com espaço de sobra para as cerca de 20 mil pessoas esperadas para o evento, o Festival tinha uma ampla área de descanso e uma oferta variada de comidas e bebidas, embora os preços possam ter assustado um pouco (com essa economia, porém, é o esperado): sanduíches custavam cerca de R$35, pizzas pequenas saíam a R$40 e os chopps eram R$16.

Em entrevista ao Mapa dos Festivais, um dos criadores do evento, Caio Jacob, afirmou que a intenção para as próximas edições não é “dobrar de tamanho”, o que pode inserir de fato o MITA em um circuito de festivais de médio porte na cidade, como o próprio Nômade, o Coala e o novo Turá, que acontece no início de julho no Auditório do Ibirapuera.

*Guilherme Sobota é jornalista cultural.

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